Estou ainda sentado. Paciente. Mas cada vez mais impacientes. Os minutos passam, e eu, nem por eles dou. Derivado das chaves, que tendem em não chegar, consigo, aqui, para o meu caderno, abstrair-me do mundo, que avança freneticamente, 360º graus à minha volta. Observo o infinito. Oiço sons. Barulhos da noite. Luzes que acendem. Uma porta que abre, outra que se fecha. Um carro que sobe, rua acima, outro que desce, rua abaixo. Paro. Reflicto. Seria um carro que subia rua abaixo? Outro que descia rua acima? Paro, novamente. Escuto. Um cão que ladra. Um ciclista, nocturno, que passa. Olho. Olho para as horas. Mando uma mensagem. Recebo o relatório. Espero. Escuto, novamente. Um comboio que passa, lá em baixo, muito em baixo. Uma mota que viaja, algures por ai. Paro. Levanto-me. A perna está dormente. Mas, a caneta, e consequentemente a mão, parecem não se interessar. Escreve. Escreve sem parar. Escreve palavras que passam e atravessam a minha mente, a uma velocidade estrondosa. Uma velocidade incalculável. Uma velocidade indescritível. Escreve, e continua a escrever, sem, aparentemente, se importar, no que é que escreve. Uns vizinhos que chegam. Sento-me de maneira mais “sociável”. Observo. Eles aproximam-se. Umas Boas Noites. Trocamos umas palavras. “As chaves ficaram em casa. Estão de folga.” Um até logo. Boas Noites novamente. Paro. Observo o raio do mosquito que tende em voltar. Já me deve ter picado, vezes sem conta. E eu, que tentava evitar pô-lo aqui, para assim o reduzir à sua insignificância, acabei de o imortalizar neste pedaço de papel. Pode ser que ele se farte. Ou pode ser que ele me desculpe. Se é que é o mesmo. Paro. Suspiro. Mais um suspiro. Mais um de tantos. Já estou farto de esperar. Uma porta fecha-se. Uma luz acende-se. Uns passo, que descem, aparentemente, dois a dois, os degraus das escadas. Uma rapariga, jovem, também ela, aparentemente, mais jovem do que eu, aparece. Abre a porta. Boas Noites. Deixa-me a porta encostada. Agradeço. Sorri. Um belo sorriso. Boas Noites. Sobe a rua, e entra no prédio do lado. Escrevo isto. Reflicto. Penso no sorriso. Vejo-o novamente. Agora não tão real como o real. Pois apenas o tento imaginar. Volto. Observo. Lá vem ela, novamente. Descontraidamente, o sorriso, e a sua bela dona, a descerem a rua. Encolho as pernas. Deixo passar. Fica o cheiro do seu cigarro no ar. Vou fazer o mesmo, penso para mim. Fumar um cigarro. Mais um, dos meus últimos cigarros. Pois, a interminável promessa de deixar fumar. O incontável último cigarro. Sei que este não o será. Dou longo bafo. Observo o fumo evaporar-se pelo imenso ar que me rodeia… Fumei o cigarro. Levantei-me. Estiquei as pernas. Andei. Voltei. Se a escrita tivesse tempo, poderia temporizar esta espera. Mas não. Continuo aqui. Sentado. Escrevo tudo, e ao mesmo tempo escrevo nada. Mando mais uma mensagem. Tento fazer com que o tempo se apodere momentaneamente de mim, e assim, tentar que esta interminável espera termine. Que este momento, longo momento, passe a outro. Outro mais agradável. Outros. Outros, incontáveis e imensuráveis momentos… Mais outros!
Comentários
textos mt bons, vou voltar a vir remexer na papelada desta secretária =)